Para que serve uma relação?



Definição mais simples e exata sobre o sentido de mantermos uma relação?

"Uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil".

Vou dar continuidade a esta afirmação porque o assunto é bom, e merece ser desenvolvido.

Algumas pessoas mantém relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça. Todos fadados à frustração.Uma armadilha.

Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo, enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio, sem que nenhum dos dois se incomode com isso.

Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada uma pessoa bonita a seu modo.

Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.

Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro, quando o cobertor cair.

Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

(Dr. Drauzio Varela)

Um mundo sem fronteiras



Muros caíram, países se unificaram e adotaram a mesma moeda, idiomas se propagaram e a internet coloca você em qualquer cidade em tempo real: a sensação é de que o mundo não tem, mesmo, mais nenhuma fronteira. Avança-se muito, para todos os lados, e rápido. Ninguém pára você.

Seus pais o educavam, hoje lhe permitem tudo. O acesso à informação era restrito, hoje é total. Não há mais censura, viva! Por outro lado, a impunidade também está vencendo o jogo, a lei custa a te pegar. De celular em punho, você manda notícias de onde estiver. Você tem tudo à disposição, o mundo é um supermercado. Quer homem, quer mulher?

Não há mais assunto proibido, escolha o tema que desejar, é só postar. Diga sempre o que pensa, inclusive ofensas! É o que todos incentivam. Faça o que tiver vontade, siga seus instintos, não renuncie a seus desejos.

Tudo pode.

Tire pedaços do corpo, injete toxinas no rosto, mude de cara. Case e descase mil vezes, tenha quantos filhos quiser, tire quantos filhos quiser, você tem que conhecer o Marrocos, você tem que fazer terapia, você é a soma das suas escolhas.

Ninguém te impede nada, você é seu dono.

Claro que tudo isso é uma ilusão, uma liberdade comprada em revista, televendas da euforia, só que sem delivery, você não recebe nada em casa, fica apenas com a impressão causada: a de que esse mundo aberto, escancarado, é um convite ao impulso, ao ir em frente sem pensar.

Expansões geográficas, virtuais e cerebrais não terão atingido também os sentimentos? Havia zonas fronteiriças em nós. Até um determinado ponto, podíamos sentir raiva, mas jamais atravessar para o campo da insanidade. Podíamos terminar uma relação, mas ferir e humilhar era desnecessário. Ser autêntico não significava ser mal-educado. Falava-se muito em "a liberdade de um termina onde começa a liberdade de outro" - quando foi isso, na era paleozóica?

Você pedia dinheiro emprestado, mas fraudar já era um pouco demais. Você contava umas mentirinhas, mas prestar falso testemunho era outra coisa. Tiravam-se fotos, mas elas ficavam restritas a álbuns e porta-retratos, não iam para o YouTube. Declarações de amor eram ditas entre quatro paredes, não no Orkut. Assim como no mar, não era prudente ultrapassar a arrebentação.

O limite do prazer ia até o risco de afogamento. Sabia-se até onde se podia chegar. Para ser alegre, não precisava ser descontrolado. Havia um limite entre ser sincero e ser grosseiro. E podíamos dar uma palmada no bumbum, mas matar era exagero.

(Martha Medeiros)

transcrito da coluna de Martha Medeiros do site Zero Hora
 
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